Insegurança é só um convite à coragem
Tio Mino e Tia Eva,
Eu achei que ia sentir uma tristeza grande na primeira semana longe, como se uma melancolia viesse persistir até conforme os bons dias aqui fossem se desenrolando. A insegurança, a saudade do Lu, a novidade de tudo… Achei que o choro que estava acontecendo na antecipação daí iria persistir na concretude do aqui. Mas isso não aconteceu. A insegurança virou uma felicidade enorme e o choro só apareceu uns dias depois, mas pelo motivo mais inspirador de todos.
Fiz uma hora aula externa na Liberdade pelo trabalho, vendo o percurso negro do bairro, e em determinado momento vimos a estátua da Madrinha Eunice. Nessa hora, os historiadores-guias do passeio começaram a falar sobre como a Eunice representa as madrinhas do Brasil. Sobre como a madrinha é a mãe de quem se vê sem mãe em um momento da vida.
Dei uma chorada gostosa esse momento, porque percebi que, sendo filha de uma mãe solo que trabalhou minha infância inteira pra poder me sustentar sozinha, sempre tive uma mãedrinha quando a solidão tentou me assombrar, e de brinde, um paidrinho que me deu uma referência de masculinidade linda. Um pai, pra uma vida inteira se sentindo sem pai.
A presença de vocês me educou a transmutar a solidão em coragem e em confiança na distância. Obrigada por me ajudarem a realizar meu sonho. Teremos mil domingos de conversas, onde quer que a geografia nos coloque. Amo vocês todos.
Ana
(Resposta a um "saudade, sumida” enquanto domingávamos a distância.)